Foi na madrugada do dia 7 de maio de 2009, três dias antes do Dia das Mães, que Christiane Yared recebeu a notícia da morte de seu filho. Gilmar Rafael Yared, 26 anos, e seu amigo Carlos Murilo de Almeida, 20 anos, sofreram uma brutal colisão entre as Ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski. No veículo que os atingiu estava o ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, que dirigia alcoolizado, com a carteira de habilitação cassada e em alta velocidade. Ao invés de se entregar à depressão e ao luto, Christiane transformou sua dor em um instrumento de luta a favor da paz no trânsito. Logo após o acidente, Christiane, que é pastora evangélica, começou a ser procurada por outras mães que também perderam seus filhos de forma violenta e buscavam orientações e consolo. Ela então começou a se reunir semanalmente com familiares de vítimas de acidentes de trânsito e em 18 de junho de 2010, juntamente com seu marido Gilmar, fundou o Instituto Paz no Trânsito, visando oferecer apoio a essas famílias. Em entrevista ao Ecoville News, Christiane fala sobre como sua tragédia familiar se tornou uma missão e sobre sua batalha por um trânsito melhor.
Ecoville News: Qual o objetivo do Instituto e como ele vai atuar?
Christiane Yared: Como não existe nenhum órgão, nenhuma pastoral, para o apoio das famílias das vítimas de acidentes de trânsito, percebemos a necessidade de criar algo justamente para suprir essa lacuna. Esse atendimento às famílias é fundamental, pois como eu passei por isso eu posso dizer o que ocorre. Há uma desestruturação total da família. E a sociedade toda perde com isso. O que nós queremos é que haja um atendimento a essas famílias, assim como existe um atendimento ao assassino, cuja família recebe uma pensão. E com a família da vítima não ocorre isso, ela não recebe nenhum tipo de orientação jurídica, psicológica ou financeira. Também queremos mudar essa história de que acidente de trânsito é fatalidade, porque a fatalidade é um mal que não se pode evitar. E 99% dos acidentes de trânsito podem ser evitados. O problema está sempre com quem está atrás do volante. Ou é falta de atenção, ou imperícia, imprudência, irresponsabilidade. Para isso, o Instituto vai atuar principalmente em três frentes: a educação para o trânsito, a fiscalização e o atendimento às famílias de vítimas de acidentes de trânsito. É preciso que as pessoas entendam que a partir do momento em que elas entram no carro, elas estão levando o bem mais precioso que elas têm: a vida delas e a vida dos seus. As pessoas também têm que se conscientizar de que e necessário utilizar o cinto de segurança, principalmente no banco de trás. O Brasil é campeão em usar cinto no banco da frente, mas não no de trás, e nós temos observado muitas mortes pela falta do cinto no banco traseiro. É preciso mudar uma consciência que está pronta. Ou mudamos ou teremos cada vez mais mortes, não há outra saída. E no atendimento às famílias, além de oferecermos orientação jurídica, psicológica, psiquiátrica, nós procuramos compartilhar nossas histórias, pois quando você acende a luz para uma pessoa, você ilumina o seu próprio caminho.
Ecoville News: Como as pessoas podem participar e ajudar o Instituto nessa luta?
Christiane Yared: Todo o nosso grupo é voluntário. Ninguém ganha nada com isso. Na realidade, todos nós ganhamos, porque estamos cuidando da nossa própria família e da nossa própria vida. A gente levanta a bandeira pelos filhos vivos, pois os mortos não precisam de justiça. A única coisa que os mortos acabam levando são as lágrimas de todos que os amavam. Vai ficar na saudada, na lembrança, mas a justiça é para os vivos, para que a gente tenha uma comunidade melhor. As pessoas podem ajudar se associando através do nosso site, onde também se encontra o número do meu celular para que qualquer pessoa que tenha algum problema possa receber nossa ajuda.
Ecoville News: Como você encontrou forças para lutar por um trânsito melhor após a perda de seu filho?
Christiane Yared: Eu choro todos os dias. Eu acho que chorar pelo filho é um direito seu. É preciso ter um momento de luto. Se você não fizer isso, mais tarde ele pode acabar com você. Então é preciso elaborar esse luto. Eu sou pastora e sempre tive, desde pequena, um relacionamento com Deus, eu sempre fui muito amiga de Deus. Eu também acredito que a gente não perde um filho se a gente sabe onde ele está. E eu sei onde meu filho está, eu conheci a vida dele, eu sei que Deus teve misericórdia, que meu filho ser reconciliou com Deus antes de partir. Algumas horas antes de partir, meu filho estava na igreja, em uma reconciliação com Deus. Então tudo isso me ajudou a ter forças para dizer para outras pessoas: vamos fazer alguma coisa? E também porque quando eu comecei a atender essas mães, eu conheci uma família da qual hoje só sobraram a avó e a neta. Sete pessoas dessa família morreram em acidentes de trânsito, mas não em um único acidente. Todos que atingiram essas pessoas estavam embriagados. Então você tem que entender que um raio pode cair várias vezes no mesmo lugar. E se você tiver que encarar essa situação e você não fez nada? Essa é uma luta por todos. Curitiba está matando de 5 a 6 pessoas por dia no trânsito. É algo violento. É daí que tiro forças. Graças a Deus tenho uma família bem estruturada, um marido que tem sido meu porto seguro, que tem me ajudado muito, que não me permite cair em depressão. E isso acaba nos fortalecendo para ajudar outras pessoas.
Ecoville News: O que você e a sua família esperam da justiça?
Christiane Yared: Eu acredito que Carli Filho não tem como escapar do júri popular, porque a comoção popular é muito grande e acho que o juiz não vai enxergar o que aconteceu como um mero acidente. Uma pessoa altamente alcoolizada, que chega a tropeçar e cair de quatro antes de pegar o carro, que anda numa velocidade imensa, mata duas pessoas, não tem autorização para dirigir, tem diversas multas, a maioria por excesso de velocidade, estava procurando algo e encontrou. Se a justiça não tem capacidade de punir, ela não serve. Eu ainda acredito que a justiça será feita da maneira que precisamos para que ela sirva de exemplo para todos esses jovens que continuam bebendo, fazendo racha, dirigindo em alta velocidade, se drogando. Há um limite, não se pode atingir a vida dos outros dessa maneira.
Conheça os Projetos do IPTRAN
Núcleo de Apoio às Vítimas de Trânsito
Local: Todas as Quartas-feiras
Horário: 19h às 20h Local: IPTRAN – Rua Fernando Amaro, 802 Alto da XV – 80.050-260
Curitiba – Paraná
Dados apontam Curitiba como a terceira cidade em números de acidentes de carro com vítimas, em todo Brasil. Muitas vezes, vítimas e suas respectivas famílias necessitam de amparo, realidade esta que não concretiza-se sem atitudes. Assim entra em ação o Núcleo de Apoio às Vítimas de Trânsito (NAVI), com o intuito de promover programas, projetos e benefícios a vítimas de tragédias de trânsito com sequelas tanto físicas como emocionais, contribuindo com a inclusão, igualdade e tratamento destas pessoas.
Assim, o NAVI oferece atendimento psicológico gratuito às famílias que perderam entes em acidentes e crimes de trânsito, além de orientação jurídica, cestas básicas, medicamentos e terapias em grupo.
Atividades • Triagem das vítimas/famílias e encaminhamento para atendimento; • Psicoterapia (breve e permanente); • Encaminhamentos aos profissionais da área da necessidade; • Reorientação profissional (sequelados); • Auxílio medicação e cestas básicas; • Convênio com empresas para admissão de pessoas portadoras de deficiência causada por acidente de trânsito; • Ações educativas; • Acompanhamento/feebdback.Multiplicadores em Ação
Tem a finalidade de formar parceria com escolas da educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio,para incentivar a conscientização das crianças em relação à segurança e a paz no trânsito Os professores da instituição farão um treinamento para se tornarem aptos a ensinar Educação para o Trânsito na transversariedade. Durante o projeto as crianças serão nomeadas como Fiscais Mirins, ganhando a responsabilidade de notificar os pais, parentes e conhecidos sobre suas atitudes incorretas no trânsito. As escolas que firmarem a parceria com o IPTRAN recebem assessoria constante dos profissionais que trabalham com o Instituto, acrescentando ainda mais à grade curricular dos estudantes.
Atividades • Criar uma carteirinha de Fiscal Mirim do Trânsito;• Para a formatura das crianças, entregar o colete e o boné do “Agente Mirim do Trânsito”;
• Criar placa para ser colocada na escola que receber o projeto, para informar sua parceria com o IPTRAN: “Escola parceira do IPTRAN – Formando cidadãos conscientes no trânsito”;
• Criação de material para a divulgação do projeto: lápis, bonés, camisetas, chaveiros, caneca, ecobag, squeeze, caneta e mousepad;
Motorista Cegonha
O Paraná já foi mencionado como o estado que mais mata entre 0 a 19 anos em tragédias de trânsito. O Ministério da Saúde divulgou que tragédias de trânsito são a principal causa de óbito e ferimento em crianças de 0 a 14 anos, isto acontece principalmente devido o uso incorreto dos equipamentos de segurança obrigatórios e específicos para cada faixa etária.
Essa atitude incorreta ainda resulta em multa classificada como gravíssima com sete (07) pontos na carteira. Para a mudança desta realidade, o IPTRAN aplica o projeto Motorista Cegonha, com o objetivo de conscientizar pais, gestantes e funcionários dos hospitais parceiros, por meio de palestras e cartilhas informativas, sobre a segurança da criança dentro do veículo. Deste modo, com informações teóricas e práticas, haverá o incentivo ao comportamento seguro no transporte das crianças e a garantia de sua proteção com o uso de dispositivos adequados ao tamanho e idade.
Público-alvo • Profissionais da área materna infantil de hospitais, maternidades e gestantes. Atividades do Motorista Cegonha • Distribuição de panfletos com dicas de segurança do bebê e da criança dentro do veículo; • Palestras educativas com os futuros pais para demonstração do perigo em não utilizar a cadeirinha/bebê conforto; • Demonstração de como colocar o bebê conforto no veículo de maneira correta e como deve transportar a criança recém-nascida;Após a triagem, será emprestado o equipamento de segurança em contrato de comodato aos pais de baixa renda. O Instituto acompanhará o crescimento da criança, trocando o equipamento quando necessário.
PARA OUTRAS INFORMAÇÕES VISITE O SITE OFICIAL DO IPTRAN http://www.iptran.org.br/