Depois de ler a matéria ” Quando a morte roubou minha vitamina D e minhas forças pra viver “, Fabiana Gomes de São Paulo, nos enviou esse depoimento inspirador sobre a sua luta contra a depressão depois da perda da sua filha Leticia.
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Cassia sua lindaaa,
Que Coincidência!!!Minha primeira consulta medica após o inicio do meu luto, foi também com o otorrinolaringologista. Eu sentia tontura, sensação de desmaio, mãos e pés sempre gelados, suor frio, entre tantas outras coisas. Após muitos exames foi constatado “Labirintite emocional”.Foi difícil aceitar um diagnostico desconhecido, embora no fundo eu soubesse que todos os meus problemas era de origem emocional.
A labirintite é uma doença cujos principais sintomas são tonturas e vertigens, ela pode ser de origem emocional ou física. No caso da labirintite emocional, o tratamento deverá ser feito por um neurologista ou psiquiatra, pois, ao tratar doenças como ansiedade e depressão são esperadas que os sintomas da doença fossem eliminados. Dr. Arthur Frazão
Bem, resolvi ignorar o diagnostico e engavetei o encaminhamento para o Psiquiatra. Em minha cabeça estava uma enorme confusão, eu pensava então:
Perdi minha filha mesmo, me tratar pra que? O que são essas sensações comparadas à dor de perdê-la?
Segui dias e dias assim, até que um segundo sintoma surgiu em mim. Dores no peito. Dores tão fortes, mas, tão fortes que eu acreditava estar enfartando. Acordava de madrugada sentindo todos os sintomas da labirintite mais a terrível dor no peito que me deixava com falta de ar. Minha teimosia e raiva da vida fez com que eu ignorasse os avisos de que meu emocional estava agora adoecendo tambem meu corpo. Corpo esse que não aguentou a pressão psicologia e mais uma vez, me levou para o pronto socorro. Dessa vez fui atendida pelo cardiologista.
Ali sentada diante daquele medico que desvendava corações, eu me expressava de forma confusa entre lagrimas e gestos desordenados. Depois de ouvir sobre minha dores e lamentos ele percebeu que o que estava me levando a loucura vinha da alma e não do coracao físico, sua especialidade, então me interrompeu gentilmente dizendo:
-Vou pedir para um colega vim te ver. Se retirando da sala em seguida.
A enfermeira com um olhar de piedade acomodou-me numa confortável cama e assim que terminou de introduzir o soro nas minhas minhas veias, o “colega” do medico cardiologista entrou na sala, trazendo em seu Crachá sua especialidade, “Psiquiatra”. Enquanto um calafrio percorria meu corpo,ele me disse:
-Você precisa de ajuda, estou aqui para ajuda-la, primeiramente vou fazer com que durma, há quanto tempo você dorme uma noite de sono?
Antes que eu respondesse meus olhos fecharam. Havia naquele soro um potente calmante pois imediatamente adormeci. Acordei me sentindo muito bem, com vontade de tomar banho, pentear os cabelos, tomar um bom café e beijar meu marido, que naquele momento entrava no quarto com um sorriso enorme. Desejei beijar-lo…beijar-lo muito e dizer o quanto o amava!
A partir daquele dia entendi que precisava de tratamento, que a dor pela partida da Letícia era realmente INSUPORTÁVEL e que sem ajuda eu não conseguiria. Embora sentisse muita vontade de morrer, eu amava muito meu marido e minhas filhas, que estavam sofrendo duas vezes (pela partida da Letícia e por minha causa). Percebi finalmente que eu estava agonizando e puxando a família para o abismo junto comigo. Decidir que não queria isso, não era justo com eles!!!
Nos dias seguintes, retirei aquele encaminhamento da gaveta e com a ajuda do meu amado cunhado Marcio Gomes, fui a uma psicóloga e depois ao psiquiatra, que através de exames, constatou que vários hormônios, como a Serotonina e dopamina por exemplo estavam extremamente baixas…eu estava em depressão.
“A dopamina é uma substância química do “sistema de recompensa”, que serve para reforçar alguns comportamentos essenciais à sobrevivência, ou que desempenha um papel essencial a motivação”
“A serotonina é um neurotransmissor que atua no cérebro regulando o humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade a dor, movimentos e as funções intelectuais.”
Em fim, foi preciso alguns medicamentos para reverter esse quadro….alias alguns não… “muitos medicamentos”. Lembro que comecei com dois e logo estava tomando onze comprimidos por dia. Isso mesmo onze. Eram tarjas pretas e vermelhas em forma de anti-depressivos, calmantes, ansiolíticos, tranquilizantes e tudo mais.
Apesar de tanto remédios, me rendi ao tratamento e logo nos primeiros dias comecei a me senti melhor. Sentia força e disposição para lutar. Lutar uma luta diária comigo mesma. Entendi finalmente que a cura dependia de mim. Letícia não voltaria mais…fato!!!
Eu precisava aprender a viver com essa novidade, com essa nova “realidade” . Então comecei a trabalhar dentro de mim a ideia que, embora ela tenha partido ela continuava a ser minha, isso não tinha mudado, eramos mãe e filha vivendo em planos diferentes.
Ahhh…isso me ajudou!!! Acreditar nisso, realmente me ajudou. Agora eu precisava ser forte, buscar soluções, afinal eu tinha outras filhas e elas estavam sofrendo por minha causa. Então por elas arregacei as mangas e decidi combater o bom combate. Comecei combatendo com medicamentos, que me deram uma visão mais lucida da realidade e me fez trocar minha posicão passiva pela atitude e ações concretas. Ações essas em forma de vários tratamentos alternativos, como terapia, hidroterapia, art terapia, grupo de apoio, leitura, filmes, amigos e tantas outras coisas saudáveis que descobrir que poderiam me levar de volta a vida.
Se consegui?
“Sim”…Eu consegui.
Após 1 ano e 4 meses de combate intensivo, eliminei os medicamentos e também os tratamentos alternativos e assumi o controle da minha vida.Voltei a trabalhar, reformei minha casa, tenho prazer em receber os amigos, fiz a festa de 15 anos da minha filha, vou a outras festas, faço planos para o futuro e tenho muitos sonhos pra realizar como o de ver minhas filhas formadas, felizes e bem sucedidas por exemplo. E mesmo apesar de nao me sentir perfeitamente curada, pois em certos momentos ainda apresento sinais de Transtorno ansiedade generalizada, como preocupação excessiva, irritabilidade, mudança de humor e…Ei espera um pouco…pensado bem, quem nao apresenta esse sintomas quando tem uma saudade no peito, filhas adolescentes, marido, casa, trabalho, fraldas, mamadeiras, noites mal dormidas e todas as maravilhas que Deus nos deu para administrar?
Acredito que esse tal de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) apesar de ser no meu caso vestígios do luto, pra a grande maioria das pessoas são vestigos da vida moderna. Mas, seja qual for o seu problema ou vestígios que você ainda administra, ele não pode te impedir de sonhar e realizar…
Pois ele nao me impediu…assim que venci a depressão e tive alta dos medicamentos, foi realizar sonhos. E apesar de ter sido um grande desafio emocional e financeiro venci..digo VENCEMOS…
Marina nasceu linda e saudável depois de uma gravidez conseguente de uma inseminação artificial.( Eu havia feito laqueadura depois que tive a Letícia).Mas essa historia eu conto depois…”
” Quanto a Letícia? Ahhh ela é minha!!!
Continua sendo minha, ela vive em meu coração,
em minha memoria, ela é imortal dentro de mim.”
Fabiana Gomes ♥CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR Adaptado Por Cassia Cohen
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