ANTIDEPRESSIVOS: São medicamentos cuja ação decorre no Sistema Nervoso Central, normalizando o estado do humor, quando se encontra deprimido ( o que equivale para o doente a tristeza, angústia, desinteresse, desmotivação, falta de energia, alterações do sono e do apetite e muitos outros sintomas).
Os medicamentos antidepressivos não atuam quando o estado do humor é normal, distinguindo-se dos psico-estimulantes.
COMO ELES ATUAM: Atuam no cérebro, modificando e corrigindo a transmissão neuro-química em áreas do Sistema Nervoso que regulam o estado do humor (o nível da viotalidade, energia, interesse, emoções e a variação entre alegria e tristeza), quando o humor está afetado negativamente num grau significativo.
OS ANTIDEPRESSIVOS NÃO SÃO DROGAS: Os antidepressivos são medicamentos que não produzem dependência, sendo a sua ação terapêutica resultante de um reequilíbrio da perturbação depressiva.
Diferem, pois, das substâncias psico-estimulantes que produzem dependência e cujo interesse terapêutico é muito menor condicionado.
TEMPO PARA EFEITO: Em geral, a ação terapêutica dos antidepressivos é relativamente lenta. Depois de iniciada a toma do medicamento. Com a dose correta, deve-se esperar o começo da melhoria dos sintomas de depressão ao fim de cerca de 15 dias, mas a recuperação pode tardar um mês.
É importante saber esperar, confiar no médico e no tratamento.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS QUE OS ANTIDEPRESSIVOS MELHORAM?
As depressões são muito diferentes, tanto nos sintomas que apresentam, como na sua gravidade, evolução e reacção do doente à depressão. Há depressões muito graves, outras moderadas. Há depressões de duração breve, média e longa (por vezes, crónica). O antidepressivo, correctamente prescrito pelo médico, produz, em geral, um importante alívio da maioria dos sintomas depressivos, como a tristeza, a angústia, a lentificação, a diminuição da energia, a falta de concentração, o desinteresse, as alterações do sono e do apetite, e as ideias negativas (de culpa, de autodesvalorização e de suicídio). Por vezes é útil e necessário combinar a medicação antidepressiva com medicamentos específicos para a ansiedade.
QUAIS AS DOSES CERTAS PARA OS MEDICAMENTOS ANTIDEPRESSIVOS?
A recomendação absoluta é seguir a dose prescrita pelo médico. Muitas vezes inicia-se o tatamento com uma dose mais pequena, que se eleva gradualmente até ao nível considerado terapêutico. Se se registarem no início efeitos indesejáveis, como securas, tonturas, obstipação, enjôos (por exemplo), há que informar o médico, mas isso não significa que o medicamento esteja a fazer mal. Mas, em alguns casos, devido à intolerância produzida no início, pode ser necessário reduzir a dose ou mudar para outro antidepressivo. Não se deve esquecer que o medicamento pode levar algumas semanas até começar a aliviar a depressão.
Reduzir a dose sem ser por indicação médica é um erro, pois pode impedir a recuperação. Uma dose exagerada, como com a maioria dos medicamentos, é sempre perigosa.
É POSSÍVEL A AUTO-PRESCRIÇÃO COM ANTIDEPRESSIVOS?
Não! A prescrição destes medicamentos é um acto médico que envolve um diagnóstico prévio de doença depressiva.
Os antidepressivos não são medicamentos que se possam usar num momento (uma vez, ou irregularmente algumas vezes), como um analgésico. Quando se inicia a terapêutica antidepressiva tem de ser cuidadosamente planeada entre o médico e o doente, envolvendo eventualmente o apoio de familiares. Tanto o início como o termo do tratamento são da responsabilidade do médico. Uma interrupção precoce do tratamento, porque a pessoa «já se sente bem», é causa frequente de recaída ao fim de alguns dias ou semanas.
OS ANTIDREPESSIVOS SÃO TODOS IGUAIS?
Não. O primeiro medicamento antidepressivo foi descoberto na década 1950/60. Desde então surgiram muitos medicamentos com acção antidepressiva e outros continuam em investigação.
As diferenças entre os antidepressivos incidem nos seguintes aspectos:
Os antidepressivos pertencem a grupos farmacológicos diferentes, com diferentes mecanismos de actuação no cérebro;
Perfil de acção terapêutica diferente, sendo uns mais activadores (melhorando mais a inacção, a falta de energia e lentificação), outros melhores para a angústia e a agitação, etc.. Há que ter em conta a resposta diversa de cada pessoa aos diversos antidepressivos;
Importantes diferenças nos efeitos secundários (indesejáveis), os quais podem contra-indicar alguns dosantidepressivos, em função desses efeitos adversos, tendo em conta a idade, a tolerância, outras doenças que possam coexistir com a depressão, contraindicações formais, etc.. É importante que o médico saiba de outras doenças, como, por exemplo, as cardíacas, as dos olhos, da próstata, etc.. É importante dar a conhecer medicamentos que se tomem regularmente e antidepressivos que já tenham sido prescritos, e sua respectiva eficácia e tolerância;
A diversidade das depressões, cujas causas e mecanismos são diferentes, justifica a necessidade de diferentes grupos de antidepressivos, com diversos mecanismos de acção, pois um doente pode não melhorar com um (ou alguns) antidepressivo(s) e melhorar com outro(s). Por vezes é necessária a combinação de dois antidepressivos com diferentes mecanismos de acção;
Os antidepressivos investigados mais recentemente caracterizam-se por terem menos efeitos secundários no organismo e por serem mais selectivos, mas não são mais potentes que os primeiros, que continuam a ser muito úteis. A toxicidade para doses excessivas é significativamente mais baixa nos antidepressivos mais recentes;
Alguns antidepressivos são eficazes sobre as crises de pânico e as obsessões, que podem coexistir com a depressão, mas também podem aparecer em perturbações diferentes da depressão.
OS ANTIDEPRESSIVOS SÃO SEMPRE EFICAZES?
Não. Por vezes um doente terá de fazer dois ou mais medicamentos antidepressivos sequêncialmente, ou em combinação, e em associação com outros fármacos que potenciam os antidepressivos. Em alguns casos a depressão não cede aos antidepressivos por diversas razões, em que se inclui a coexistência de doença física, o uso de álcool ou de drogas, a gravidade dos factores psico-sociais ou, apenas, a não-resposta da doença depressiva aos medicamentos. A indicação da electroconvulsio-terapia reserva-se para depressões graves e resistentes.
QUANTO TEMPO SE TEM DE TOMAR UM ANTIDEPRESSIVO?
Tal decisão compete ao médico. Em geral, a terapêutica de uma depressão justifica vários meses de tratamento (± 6 meses). Há doentes que terão de tomar a medicação por um período prolongado ou mesmo indeterminado para evitar as crises depressivas. Nestes casos o medicamento antidepressivo é preventivo da recorrência das crises depressivas. É de ter em conta que na doença depressiva é mais frequente haver tendência para crises repetidas, por vezes periódicas, sendo a crise depressiva única a excepção. Se a recorrência das crises é frequente, justifica-se a prevenção antidepressiva. No caso das crises serem bipolares (crises de euforia alternando com depressão) a prevenção deverá, caso seja necessária, ser feita com estabilizadores do humor, como o carbonato de lítio, a carbamazepina ou valproato.
Os medicamentos antidepressivos são um grupo terapêutico excepcionalmente importante no tratamento das depressões e na sua prevenção. Dada a importância individual, familiar e social das doenças depressivas, com o sofrimento que a caracteriza, a incapacidade que produzem, a imcompreensão e rejeição a que muitas vezes conduzem os pacientes e o risco de suicídio, o seu tratamento guinda os medicamentos antidepressivos a um nível de importância a par de outros fármacos indispensáveis para a medicina e a psiquiatria.
Mas seria uma caricatura absoluta tentar caracterizar estes medicamentos com uma pílula milagrosa («semi-droga»…) ou entender que o tratamento da depressão se limita à prescrição de um medicamento. Sendo essencial a medicação, como em outras áreas da medicina, é também indispensável no acto médico a compreensão, a explicação, a motivação e o apoio psicológico individual e familiar. Mais do que nas outras doenças, a relação terapêutica é fundamental. Mas sem a medicação antidepressiva, para a maioria das depressões, a mais bem consumada psicoterapia é manifestamente insuficiente, intervindo tão só na esfera dos mecanismos psicológicos de defesa