Então é Natal…E daí?

 

E aí querida, eu quero abrir um parentese dentro da minha história. Cada pessoa é um indíviduo que com suas histórias de vida, seu histórico familiar, sua fé e caráter, convive com a dor de um jeito. Não existe uma receita mágica, que eu possa te dizer faça igual porque deu certo para mim e vai dar certo para você. Ou muito menos posso te julgar por pensar de uma outra maneira ou você me jugar pela forma como lidei ou lido com minha dor. Estou te falando isso, porque quando cheguei 1 ano depois diante do túmulo do meu filho, eu tinha a dor gigantesca de te-lo perdido, de ter visto todos os meus sonhos frustrados, de ter me decepcionado com meu Deus e ter visto minha fé naquele momento, naquela situação não fazendo a menor diferença. Só que além de todas essas dores eu tinha uma que estava me acompanhando há algum tempo, que era a dor de não suportar mais a dor (deu para entender?), assim, eu não aguentava mais ser uma morta viva, não aguentava mais viver aquela angustia e desespero, eu queria, eu precisava superar a morte do meu filho.

E foi essa dor que me levou a me deparar, pela primeira vez após o sepultamento, com a lápide com o nome dele. Doeu tanto, mas tanto ver essa dura realidade que não suportei ficar de pé. Meu marido estava ao meu lado e falou, diga tudo que você precisa dizer, sem reservas, sem medo, sem pudor… e aí eu disse tudo, tudo… eu estava com raiva, eu estava enlouquecida, cheguei ao ponto de ouvir Isaac chorar e eu desesperada tentei abrir a lápide para retira-lo de lá. Meu marido sem saber o que fazer, começou uma oração e disse “Deus ajude a minha esposa, eu não sei o que fazer, mas o Senhor sabe”.

Naquele momento começamos a cantar uma música que diz assim “Espirito Santo, ore por mim, leve para Deus tudo aquilo que eu preciso, Espirito Santo use as palavras que eu necessito usar mas não consigo… Estou clamando, estou pedindo, só Deus sabe a dor que estou sentindo…” E de repente uma paz invadiu meu coração, eu olhei para meu esposo ele estava alí em pé, sem reação, mas me disse uma coisa que fincou no meu coração… ele disse “foi ele quem morreu, você poderia ter morrido também, mas não morreu, sai dessa cova e vem viver, eu preciso de você, vem descobrir porque você ficou viva…” E eu ainda tonta entendi o recado. Ainda sem ter a compreensão do que havia acontecido ali eu entrei no carro chorando muito, meu corpo doía cada pedacinho, mas algo no meu coração tinha mudado.

Mais tarde, naquele mesmo dia, eu encontrei com um mulher ferida que voa, já falei algumas vezes dela aqui. Nosso primeiro encontro foi naquele dia e ela me disse algo que marcou minha vida. Ela que tinha perdido uma filha no auge da juventude me disse chorando “eu ainda choro, choro de saudade, mas a partida da minha filha me fez uma mulher melhor, eu vivo para honrar a vida dela e para honrar essa experiência que Deus permitiu que eu passasse”, ela olhando nos meus olhos disse que eu esperasse que no tempo certo eu viveria aquilo também. Confesso que no momento eu não entendi direito. Passados 5 anos eu entendo perfeitamente.

Mas e o Natal? Bem, no outro dia eu e meu esposo viajamos para o Rio para encontrarmos com a família e celebrarmos o Natal.

Obviamente não foi o Natal mais feliz da minha vida. Mas, nós fizemos uma escolha naquela noite, poderíamos nos trancar no quarto e nos isolarmos do mundo para chorar a nossa dor ou poderíamos aproveitar a presença de pessoas que amávamos tanto e agradecer a Deus por mais um ano juntos, por não estarmos no hospital, por estarmos vivendo um dia de cada vez.
Escolhemos a segunda opção e assim temos vivido. Naquele Natal não nos forçamos a nada, não forçamos sorrisos, não demos gargalhadas, mas aproveitamos aquele momento. Todos que estavam ali respeitaram a nossa dor, entenderam o esforço que estávamos fazendo e do nosso jeito comemoramos o Natal sem Isaac. Afinal, nós entendemos que poderíamos honrar a vida do Isaac sendo gratos a Deus por tudo que aprendemos com a experiência de vida e morte dele. Fizemos a escolha de lembrar dos sorrisos que vimos ele dar, do dia que pegamos ele no colo, que cantamos para ele e ele sorriu. Do dia que me afastei dele e ele chorou quase que revindicando a minha presença. Escolhemos lembrar das coisas boas. Escolhemos transformar o nosso luto em luta. A nossa dor em superação e testemunho. Fizemos isso por ele, por nós, por nossa família, por entender que Deus não erra e que tudo isso faz parte de um propósito.

Por isso, mesmo sendo tão doloroso relembrar alguns momentos, eu fiz questão de escrever esse depoimento, pedindo muito a Deus que pelo menos uma mãe órfã, que uma mulher ferida escolha voar nesse dia.

Respeite seu luto. Mas se hoje você não está mais suportando a sua dor, decida transforma-la em uma força que vai honrar seu filho ou sua filha que partiram.

Quanto a mim o sorriso aos poucos foi voltando, a dor está aqui guardadinha no meu coração, desisti de tira-la, já entendi que ela faz parte de mim agora, ela é minha companheira de vida, mas ela não dá muito “pitaco” na minha vida não, aqui quem manda é vontade de viver, é a experiência de tudo que vivi. Ah, no Natal passado eu até comi Chester (o que não fazia desde aquele dia da UTI)…

Lembrando que no Natal se comemora o nascimento Jesus, que para nós é vida, mas para Deus foi abrir mão do seu filho por um tempo… Um dia Jesus voltou para reencontrar com o Pai e eu pela minha fé creio que um dia vou reencontrar com o Isaac e isso me faz celebrar o Natal, pois foi graças ao nascimento de Jesus e da sua morte é que posso acreditar que um dia viverei esse reencontro.

Feliz Natal!
Com muito amor!!

Sua amiga e companheira Jana.
Uma mulher ferida que voa…

Janaina Meilman- Editora e colunista.
Seu primeiro filho Isaac,morreu aos 43 dias de vida.Ele nasceu prematuro e faleceu devido a complicações de uma infecção intestinal(enterocolite necrosante ).Dois anos depois engravidou novamente, mas, teve que fazer um aborto e retirar uma das trompas por causa de uma gravidez ectópica.Mesmo com uma só trompa ela engravidou novamente no final de 2010 . Janaína mora em Brasilia com seu marido Marcos e seu filho Davi.

Oi Meninas...e então o que vocês acharam?...comentem

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