“Quando perguntas simples se tornam uma afronta a nossa dor”

  

Precisei passar pelo processo de mudar o status do meu orkut, porque logo no início da gravidez coloquei que eu tinha 1 filho. Meu perfil era resumido assim: Jana mãe do Isaac. Ter que alterar isto me doeu na carne e só consegui fazer depois de um tempo e com o auxílio da terapia. Com o tempo percebi que responder a simples pergunta: Filhos? Quantos? era doloroso demais, e confesso para vocês, passados 4 anos ainda me dói ter que responder esta pergunta em formulários. Só não dói mais, porque antes tinha que colocar nenhum filho, hoje o Davi ameniza isso, já posso colocar orgulhosa que sou mãe. Mas, só eu sei como é difícil ter que colocar 1, sabendo que são 2 e que poderiam ser 3. Mas, percebi que não dava para continuar contando minha história de dor sempre que perguntavam quantos filhos eu tinha.

Esse conflito aumentou quando engravidei do Davi. As pessoas inocentemente me perguntavam, é seu primeiro filho? e piorava quando perguntavam: É sua primeira gravidez? A resposta vinha até a garganta, quase que eu falava: Não, é minha terceira gravidez, mas como eu ía continuar a conversa?

E se me perguntassem a idade dos meus outros 2 filhos? Eu teria que contar que eles não estavam mais aqui, que o primeiro morreu e o segundo nem teve a chance de nascer?

Levei esse conflito para minha psicóloga e foi quando ela me deu a resposta que me libertaria desse tormento. Ela me disse: “Jana, a sua história é sua, você sabe dela, você conhece sua dor, sua saudade, sua frustração. As pessoas nem querem saber disso quando perguntam se você tem outro filho. Quando perguntarem quantos filhos, diga, é o primeiro. E com o tempo você vai assimilando isso dentro de você.”
E desde então comecei a colocar isso em ação. No início foi muito difícil, mas depois vi que era o melhor  a ser feito. O Davi era uma nova história, e ele não precisava trazer a tona a dor da perda, mas sim a alegria do ganho. Como disse acima, ainda é difícil responder que só tenho um filho, mas percebi que essa é a melhor resposta diante das circunstância. E que ao responder isso não estava traindo o Isaac, nem ignorando sua existência. Estava apenas seguindo a vida.

Confesso que não foi fácil tomar essa decisão, mas foi necessária. Afinal, o que em nossas vidas depois da perda ficou fácil? Nada, não é mesmo?

 E é um processo. Leva tempo. Levei tempo para me desfazer de algumas fotos do Isaac nos meus perfis de redes sociais. Mas entendi que precisava deixar ele ir. Precisava ter essa história só pra mim. E chega uma hora que a gente realmente não quer ou não precisa mais compartilhar tão intensamente com todos nossa dor. Fiz isso por mim, não pelos outros. Isso é muito importante entender. Nada que me fez superar a dor e o luto foi só pelos outros, mas principalmente por mim, para que a minha vida continuasse a caminhar. Meu luto, minha perda, minha dor é minha. É como uma música  da Marisa Monte  “Demais ninguém” que diz assim:

 “Se ela me deixou a dor, É minha só, não é de mais ninguém

Aos outros eu devolvo a dó Eu tenho a minha dor…

A dor é minha, A dor é de quem tem…”

É isso, a dor é de quem tem. Por um tempo é necessário externar essa dor dilacerante, mas com o  passar dos meses, anos, a gente descobre que ela é nossa, e que nossa experiência é para ser compartilhada quando acharmos necessário, seja para ajudar, compartilhar ou desabafar.

 Que Deus nos ajude a sobreviver e renascer do luto, mais fortes, mais maduras, mais humanas, mais corajosas, mais sensíveis. Já que a morte nos levou algo tão precioso, que todo resto que venha dessa experiência se torne ganho. Que possamos atravessar esse rio de dor e sair do outro lado da margem pessoas melhores. Todos os dias tenho a opção de ser uma coitada ou uma vencedora. Eu escolhi a segunda opção, por entender que é isso que vale a pena de toda essa dolorosa experiência, que cada mãe órfã encontre forças para também escolher ser Vence Dor a!

Como amor,

 Jana Meilman

 

“Guia-me com a tua verdade e ensina-me, pois tu és Deus, meu Salvador, e a minha esperança está em ti o tempo todo.” Salmos 25:5

Janaina Meilman- Editora e colunista.
Seu primeiro filho Isaac,morreu aos 43 dias de vida.Ele nasceu prematuro e faleceu devido a complicações de uma infecção intestinal(enterocolite necrosante ).Dois anos depois engravidou novamente, mas, teve que fazer um aborto e retirar uma das trompas por causa de uma gravidez ectópica.Mesmo com uma só trompa ela engravidou novamente no final de 2010 . Janaína mora em Brasilia com seu marido Marcos e seu filho Davi.

2 thoughts on ““Quando perguntas simples se tornam uma afronta a nossa dor”

  1. Eu não sei o que acontece, mas a impressão que tenho é que a todo tempo tem alguém me perguntando, vc só tem ela, no caso a “Ingrid”, ou até mesmo um simples preenchimento de formulário, bom eu não consigo, talvez pelo pouco tempo, ou por serem gêmeos, não sei, hoje não me imagindo dizendo que tenho um só filho.

    1. Minha amada Flavia,Dani e Elis…vivo com vocês esse drama,mas,sabe não pensm muito nisso e responda conforme o seu humor do dia…as vezes você vai querer parar contar toda sua historia,outras vezes vai entrar no nosso mundo particular de faz de conta e dizer que estão todos em casa…bem obrigada…esses dias me diverti vendo uma mãe contado no seu blog,a Valeria que depois de muito tempo ela foi no salão e quando a cabeleireira perguntou pela filha dela…ela disse que tinha ficado em casa…a cabeleireira insistiu e perguntou com quem com sua ficou com sua mãe…ela simplesmente respondeu….foi…ela disse que não tem a menor ideia por que fez isso….porque não contou a verdade e estava se sentindo mal por isso…eu acho que agente tem direito de escolher nossas respostas,desde que seja por uma questão de humor do momento e não pela negação do fato….love you

Oi Meninas...e então o que vocês acharam?...comentem

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