Reconstruindo Tássia:“Encontrei o meu jeito, mas dizer que eu superei isso é mentira. Metade de mim morreu”.

 

Afastada da TV desde 2007, quando rompeu seu contrato com a emissora, Tássia investe no teatro, onde foi criada. “As pessoas acham que só por você não estar fazendo televisão, não se está fazendo nada. Se você não faz novela e não tem Facebook, você não é ninguém”, diz ela, que estreia nesta sexta-feira (15), o espetáculo “Se você me der a mão”, no Teatro Gazeta, em São Paulo, com direção de Ernesto Piccolo.

O texto é baseado na história real da mãe da atriz Priscilla Squeff, que divide o palco com Tássia, e fala sobre a relação de mãe e filha através da superação de um câncer de mama. Um desafio para atriz já que em vários momentos do espetáculo lembra a filha Maria Júlia, vitimada por uma rubéola congênita tardia, em 1996. “Tem momentos bem complicados, que me faz pensar como seria ela agora”, diz ela, acrescentando: “Encontrei o meu jeito, mas dizer que eu superei isso é mentira. Metade de mim morreu”.

Em entrevista exclusiva ao iG Gente, Tássia ainda afirma que sente uma ligação espiritual com a menina. “Se eu falar muito, as pessoas vão achar que pirei. Mas sei quando tenho minha filha por perto. Eu sinto o cheiro dela”.

 

iG: Como surgiu o convite para a peça?
Tássia Camargo: Conheço o Ernesto Piccolo há 17 anos. Já tínhamos feito muita coisa juntos, mas ele nunca havia me dirigido. Quando ele me convidou para esse projeto, nem pensei. Falei: “Já estou”. Ele é muito generoso. Todo dia liga para mim e pergunta se estou bem, se estou segura. Além disso, tenho muita química com a Pri. Rolou, sabe? Aprendi que em um espetáculo a coxia é um fator muito importante para o sucesso de um espetáculo.

 

iG: Além de falar sobre a superação de uma doença, no caso o câncer de mama, o espetáculo retrata a relação mãe-filha. Como é para você fazê-la já que você perdeu uma filha, em 1996, aos dois anos?
Tássia Camargo: Tem momentos bem complicados, que me faz pensar como seria ela agora. Ela teria 19 anos. Eu achei que depois que Maria Julia morresse, nenhuma morte me abalaria. Mentira! Para mim a morte é devastadora. Não lido bem com a morte. Não tenho medo de morrer e, sim, de depender dos outros. Sabe aquela coisa de bota a velhinha no sol, tira ela do sol? Tenho medo de ficar no meio, sabe? Eu espero morrer enquanto estiver dormindo. Mas não lido bem com as perdas. Até de pessoas que não conheço.

iG: Como faz?
Tássia Camargo: A gente não lida. A gente vai levando. E não tentem imaginar a dor porque ninguém vai conseguir entender. Eu, por exemplo, em três dias eu me mudei, doei tudo, até talher. Comprei tudo novo e trabalhei em coisas que nem sei. Me afundei no trabalho. Claro, que temos nossas recaídas. Toda às vezes que vejo uma mãe conhecida, como a Cissa Guimarães ou a Christiane Torloni, ou até de mães que não conheço que perdem um filho, vejo no noticiário, choro. Tenho vontade de ligar para a reportagem e pegar o telefone dela para ligar para ela. Porque a pergunta que fica na cabeça é o que vou fazer da minha vida? Eu encontrei o meu jeito, mas dizer que eu superei isso é mentira. Metade ou mais do que isso de mim morreu. Mas vou levando…

iG: Procurou alguma religião para superar?
Tássia Camargo: Ah, na época, fui para tudo. Já era da Ordem Rosacruz, mas não vou no templo. Também tenho um pouco da coisa kardecista, do budismo. Adoro santos, a minha padroeira é Nossa Senhora de Aparecida e gosto de São Francisco de Assis. Acredito na história de Jesus, mas não acredito em Deus. Não acredito na bíblia. Claro, que tem coisas que são verdade. Mas ela passou por quantas mãos? Quantos pontos foram aumentados? Jesus, claro, existiu, mas Deus? Cadê? Fiquei um pouco assim porque quando a Maria Julia saiu de ambulância, eu falei: “Vai com Deus”. E ela foi mesmo. Fiquei revoltada. Não tenho religião, mas tenho filosofia de vida. Acredito na força da natureza. E respeito todo mundo, então, espero ser respeitada.

iG: Você disse que tem um lado kardecista. Ficou alguma lição espiritual com a sua filha?
Tássia Camargo: Isso não gosto de falar porque vão me chamar de louca. Desde pequena, tenho umas coisas, que comecei a entender quando entrei na Rosacruz. Eu sinto e percebo algumas coisas. Mas se eu falar muito, as pessoas falam: “Ih, essa aí pirou”. Mas eu sei quando tenho minha filha perto, eu sinto o cheiro e percebo quando alguém vai morrer. Não frequento centro, mas sei lidar com isso. Não falo muito porque as pessoas julgam. Eu não gosto nada de ismo. Eu não quero que me convençam. Eu não fico fazendo isso com ninguém e respeito os outros. Por exemplo, não tenho partido, mas sou de esquerda. Mas não tento convencer o outro de ser também. Eu participei da passeata dos 100 mil, estive nas diretas já, sou militante, eu vou para palanque, sou lulista, sou dilmista. Mas não encho o saco de ninguém. Eu quero ser respeitada.

iG: Nesse ano, você completa 35 anos de carreira. Como você avalia a sua trajetória?
Tássia Camargo: Estou satisfeita. Comecei no teatro, surgiu a TV e depois veio o cinema. Amo fazer televisão, mas nasci nos palcos e nunca deixei de fazê-lo. Seja atuando, produzindo ou dirigindo. No cinema, acho que fiz pouco. Recebi convites para atuar em “Bete Balanço” (1984) e “Leila Diniz”, dirigido por Luiz Carlos Lacerda em 1987, mas não pude aceitar porque engravidei. Mas me sinto privilegiada por trabalhar com pessoas que me ensinaram muito e que me inspiraram. A “Escolinha do Professor Raimundo”, por exemplo, era uma faculdade. É engraçado, quando estreio um projeto, ainda me sinto uma menina. Todo trabalho para mim é um novo começo e é como se estivesse estreando pela primeira vez. O dia que essa sensação for embora, largo tudo e vou fazer outra coisa.

iG: Quais foram os seus principais acertos e decepções?
Tássia Camargo: Minha alegria é minha carreira toda. Mas a minha maior decepção foi a Record. Não foi a novela, nem o autor. Foi achar que a emissora era outro campo de trabalho, que não é. Aquilo é uma ditadura de pastores, uma coisa horrorosa. Só fui para lá porque a Globo não ia me contratar e, nessa época, por coincidência me chamaram. Amei fazer a novela do Marsílio Moraes e o personagem que ele criou. Mas o ambiente era horrível. Foi a primeira vez que lacrei uma porta com Super Bonder. Não passo nem na frente da emissora e não coloco nem no canal para não dar ibope. Foi minha maior decepção. Era impossível trabalhar com a pressão que eles faziam e não sou só eu que acha isso. Mas é que processei e ganhei. E ainda tem calúnia, difamação e danos morais porque o que eles publicaram é mentira. E eu vou provar isso na Justiça.

Cassia Cohen -Editora Chefe
Em 1º de abril de 2011 Cassia teve gêmeos,Christopher e Oliver.No dia 06 ,Oliver,o caçulinha faleceu devido a complicações de uma infecção intestinal(enterocolite necrosante ).Em 06 de abril de 2012,um ano depois da partida do seu filho,a revista eletrônica foi lançada. Cassia é Piauiense, mora na Flórida-EUA com seu marido,Stuie e seus filhos Vick e Chris.
http://mulheresferidasquevoam.com

Oi Meninas...e então o que vocês acharam?...comentem

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