Os dias, as semanas e os meses após a perda de um filho são extremamente difíceis e dolorosos, com sensações alternadas de tristeza, choque, luto, depressão, culpa, raiva, ressentimento e vulnerabilidade.
Você pode se sentir distante e irritada, incapaz de se concentrar, comer ou dormir direito. Às vezes uma exaustão física também se apodera de você, tornando qualquer tarefa ou movimento um fardo.
Com o passar do tempo, haverá horas ou até dias em que você começará a retomar a vida normal, para, de repente, ter uma recaída de tristeza. Lembre-se: cada pessoa reage às perdas de um jeito diferente, e não há modo certo ou errado de se sentir.
Tenha em mente, contudo, algumas coisas:
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Aceite seus sentimentos. Você poderá se surpreender por sentir raiva ou ressentimento em relação a amigas ou parentes que tenham gestações bem-sucedidas ou bebês em casa. Ou você poderá se achar um fracasso como mulher, acreditar que seu corpo a traiu ou até que você não esteve à altura do bebê e decepcionou seu parceiro ou as outras pessoas. Outro sentimento comum é se responsabilizar pela perda, como se ela pudesse ter sido evitada por algum gesto seu.A melhor maneira de lidar com esse tipo de culpa ou julgamento tão duro contra si mesma é falar abertamente com seu companheiro e pessoas próximas sobre o que aconteceu, e sobre como isso está afetando você. Uma conversa com o médico sobre os motivos que levaram ao abortamento também ajuda certas mulheres a compreender melhor as circunstâncias e aceitá-las como externas à sua vontade.
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Permita-se sentir tristeza. Não tente impor um fim à tristeza. Muitas pessoas vão tentar ajudá-la dizendo que “o próximo vem logo” ou que o melhor é “tocar a vida”, mas a verdade é que você precisa lidar com a dor à medida que ela lhe toca. Pode ser que demore mais até que você tenha vontade de retomar uma vida normal, e, mesmo quando isso ocorrer, lembranças difíceis continuarão vindo à tona. Alguns pais e mães voltam a sentir a perda mais fortemente na época em que o bebê estava programado para nascer ou em alguma comemoração familiar.
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• Peça uma licença do trabalho. Mesmo que esteja fisicamente recuperada, passar algum tempo afastada do trabalho poderá lhe fazer bem. É preciso ter um momento para processar com o que aconteceu. A mulher tem direito a 15 dias de licença remunerada pelo INSS em caso de aborto até a 23 semana de gravidez. Se a perda tiver acontecido a partir da 23 semana, o direito ao afastamento é equivalente ao da licença-maternidade, ou seja, de no mínimo 120 dias remunerados (6 meses no caso de funcionárias públicas).
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• Tente entender que a perda pode afetar seu parceiro de uma forma diferente. Se seu companheiro não parece tocado pela perda da mesma maneira que você, talvez ajude saber que homens e mulheres geralmente expressam tristeza e dor de maneiras bem diferentes. Enquanto as mulheres tendem a se abrir e buscar apoio, os homens costumam interiorizar seus sentimentos.Além disso, muitos homens acreditam estão “zelando” pelas parceiras ao permanecer durões. Caso seu companheiro não demonstre tanta tristeza, tente não achar que se trata de descaso por você ou pelo bebê.
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• Esteja preparada para uma certa tensão sexual no relacionamento. Alguns casais consideram que a relação sexual os conforta e confirma o amor de um pelo outro. Outros, por outro lado, ficam tristes, um tanto “anestesiados”, temerosos por uma futura gestação ou simplesmente assustados. Às vezes, depois de alguns meses (converse com seu médico sobre isso), um dos parceiros quer voltar a tentar engravidar, enquanto o outro ainda não está pronto. O melhor é tentar manter um diálogo sincero sobre o assunto e respeitar o tempo de cada um.
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• Converse com outras pessoas. A dor de uma perda costuma ser um assunto extremamente íntimo e solitário. Mas, embora seja difícil, conversar sobre o que aconteceu pode ajudar a diminuir a solidão. Sem falar em o quanto você se surpreenderá de ouvir inúmeras histórias semelhantes de amigas, familiares, colegas de trabalho e vizinhas. Só tenha em mente que, mesmo dentro de sua própria família, as reações à perda serão diferentes e nem sempre no tom que você considera adequado e na intensidade de que precisa.
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• Compreenda por que algumas pessoas preferem manter distância. Muitas pessoas ficam absolutamente aterrorizadas diante de emoções fortes e da tristeza, e não sabem como se portar ou o que dizer para alguém que acabou de perder um bebê. Para elas, é mais fácil evitar contato ou tentar ignorar ou minimizar o que ocorreu. Esse tipo de atitude pode gerar mágoas profundas. Tente, no entanto, pensar que esse tipo de atitude não é fruto de nada que você tenha feito, nem falta de carinho.
Se com o passar dos meses você ainda sentir muita dificuldade em ir retomando a rotina, ou se considerar que seu estado emocional piorou, converse com seu médico ou peça recomendação a conhecidos sobre um terapeuta. Uma ajuda especializada poderá muni-la das ferramentas emocionais necessárias para enfrentar melhor a perda.