O ESTRONDO
Com a chuva cada vez mais forte, Verônica decidiu reunir todas as crianças no seu quarto.Ela segurava nos braços seu bebezinho caçulinha Cauãn enquanto as crianças brincavam,saltitavam e pulavam despreocupadamente pelo quarto.Em um intervalo dessas brincadeiras,suas duas meninas Hyasmim e Carol foram juntas ao banheiro e logo depois um forte barulho tomou conta de toda a casa.
A força das águas impiedosas do Rio ,que fora despertada pelas chuvas incessantes daqueles dias,destruiu a parede do banheiro dando inicio há uma das maiores tragedia já vivida por um único ser humano.
Naquele momento era com si, ela tivesse sido transportada para um filme de ação e terror.Enquanto seus olhos viam a parede desmoronar,seus ouvidos ouviam os gritos das suas meninas pedindo socorro,sua boca gritava pra os meninos se afastarem,seus braços seguravam seu bebê,sua mente si confundia com a percepção devastadora da impotência para salvar Hyasmim e Carol e a necessidade de agir rápido pra tentar salvar as outras crianças.
A água do rio em cumplicidade com água da chuva,levou suas meninas…Não havia tempo de parar…de olhar a agua levar …não havia tento de chorar.Era preciso ser fria,forte e agil.
Ela correu para sala com as outras criança,arrebentou a janela e colocou os dois meninos,seu filho Hiago e seu primo Victor em cima da lage.Quando se preparava pra subir,ela ouviu um outro estrondo.Olhou subitamente para a seu bebê e percebeu que ele havia a partido…morrido nos seus braços…
A água havia destruindo outra parede-a gua havia levado também a laje e com ela os dois meninos.
Mas,não havia tempo de parar…de olhar para o que a parede destruiu…de chorar…ela já sabia que haveria todo tempo do mundo para chorar depois,agora ela ainda precisava ser fria,forte e ágil.
Como o raciocínio rápido e cheio de cuidados que só o amor pode dar a um ser humano nessa hora,ela tirou sua calça de moletom que usava e amarrou o corpinho de seu bebê no seu corpo.Logo em seguida a água começou a leva-la e cada vez com uma intensidade maior.De repente Verônica ouviu outro forte estrondo,uma pancada muito forte…em seguida percebeu que corpinho do seu bebê estava sendo “arrancando” do seu…Verônica lutou…mas,as águas venceram mais uma vez…
A GUERREIRA FICOU SÓ
Agora a guerreira estava só…agora havia tempo de parar…de chorar…havia tempo de morrer…e desejou morreu…e teve inveja de quem morreu…mas,não morreu…
Um bambuzal dentro do rio,a dois quilômetros da sua casa,havia em alguma momento,em algum tempo, sido plantado e separado por Deus pra salvar a vida de Verônica.
Quando Verônica abriu seus olhos,percebeu que estava agora abraçada com a arvore no meio daquele parque na mesma posição que foi resgatada do rio naquele dia terrivel.Angustiada,esgotada mais uma vez si perguntou:”Por que não morri? “Por que não morri”?-“Por que não…
Doces balbuciados ,sons bem conhecidos de Verônica trouxe ela de volta da sua viajem mental,antes que ela pudesse encontrar alguma resposta simples para uma pergunta tão profunda e complexa.
ANA LUIZA-era sua filhinha de 9 meses Ana Luíza que chegava com pai, balbuciando e “tagarelando” sem parar,tagarelando e sorrindo sem parar.Feliz…cheia de energia e dona de um carisma irresistível .Feliz , com a graça e a alegria de quem sabe que trouxe consigo todas as respostas…
O amor de Ana Luíza tirou Verônica do chão.Ela enxugou as lagrimas com as costas da mãos e olhou para seu marido,que retribuiu com um olhar de cumplicidade .Depois pegou Ana Luiza e apertou demoradamente contra seu peito…e sorriu…não um meio sorriso,mais um sorriso inteiro…se jogou no chão e rolou na grama com Ana Luiza…e gargalhou…
Sim…agora Verônica também estava feliz…e tinha nos braços a sua resposta…ANA LUIZA… Verônica enquanto brincava no chão com sua menina, pensou-“Se eu tivesse morrido ,Ana Luíza jamais existiria, pois ela só é quem é, porque é parte de mim…só eu poderia ser sua mãe,só poderia dar vida a ela”-Verônica abraçou demoradamente sua filhinha,olhou para o céu,hoje morada dos seus outros quartos filhos, e disse-“OBRIGADA DEUS PORQUE NÃO MORRI.Eu sou importante,porque tu precisava de mim pra ser mãe da ANA LUIZA…eu sou muito,mas,muito importante porque ANA LUIZA precisa de mim.”
Em seguida,levantou-se e com Ana Luíza nos braços,deu a mão ao seu marido e juntos seguiram caminhando pelo parque.Durante a caminhada,quando Fernando contava animadamente como foi seu dia com o bebê, foi repentinamente interrompido por Verônica ,que em tom alto e animado falou“Precisamos ir pra casa…já é noite e quero acender as luzes da arvore de natal”….
Sim…Ela tem uma arvore de natal imensa na sala. Verônica perdeu seus quartos filhos,precisou fazer uma inseminação artificial pra ter sua Ana Luiza,mas,ela ainda acredita no Natal,na Vida e em Deus. E você?