Durante minhas noites “indormíveis” após a morte do Isaac eu jamais pensei que conseguiria superar a dor, a saudade. Lembro da sensação de sufocar, colocava a mão no peito e dizia pro meu marido eu vou morrer, eu não vou conseguir sobreviver. Um dia fui parar no hospital pensando que estava enfartando, fiz todos os exames até que no meio de um exame a médica me perguntou o que estava havendo comigo, contei que tinha perdido meu único filho há poucas semanas e ela me deu o conselho sábio que só uma mãe que já havia perdido um filho poderia dar, ela me disse “querida vai para casa e chore, não se faça mais de forte, chore até quanto aguentar que essa dor física vai passar” Fui para casa pensando naquilo, meu marido saiu para trabalhar, lembro de pegar o travesseiro e tampar o rosto, então comecei a gritar, queria meu filho de volta, chorei, chorei, chorei até não ter mais forças e foi quando vi que a dor física tinha passado, a interior ainda não, mas já tinha conseguido por para fora o que me sufocava. Tinha aprendido a chorar, a gritar e a mostrar pra mim mesma que eu não era a mulher maravilha.
Hoje, 4 anos depois, lembro desse momento, mas procuro a dor e não a encontro. Nessa busca encontrei a saudade, a vontade de ter de volta, vi as cicatrizes, mas a dor, por incrível que pareça foi embora. Eu sobrevivi e sei que você também vai sobreviver.
Descobri que o tempo do luto demora de acordo com sua personalidade. Eu, por exemplo, nunca fui de ficar me apegando muito as lembranças difíceis da minha vida. As vezes escuto minhas irmãs contando de histórias ruins que passamos na infância e eu não me lembro. Descobri que esse jeito de ser seria um aliado no meu renascimento do luto. Todos os dias pela manhã me digo isso: Hoje eu tenho a escolha de ser vítima ou vencedora. Eu decidi ser VENCEDORA. Decidi que minha perda não me faria uma vítima, mas sim um exemplo de superação. Quando entendemos que temos essa escolha e escolhemos não ser vítimas, ganhamos mais um aliado para superar.
Fiquei em luto até quase 1 ano após a morte do Isaac. Durante esses meses não achei graça nenhuma na vida, tudo era cinza, sem cor, não me maquiava, não pintava a unha e muito menos usava roupas coloridas. Me sentia uma morta viva, um dia uma mãe que tinha sobrevivido ao luto, foi boca de Deus para me trazer de volta a vida. Naquele mesmo dia, mais cedo tinha ido visitar o túmulo do Isaac e meu marido disse em alto e bom som, se fosse propósito de Deus que você morresse você estaria neste túmulo com Isaac, mas você não morreu, volte a vida; e horas depois tinha uma mãe que havia perdido uma filha me dizendo praticamente as mesmas palavras, só que uma frase fez a diferença, ela me disse: “Jana, Deus não erra, Ele não errou comigo quando levou minha filha, Ele não errou com você, quando levou seu filho. Tudo tem um propósito.” Naquele momento entendi que a vida continuava e que eu teria que conseguir uma maneira de seguir em frente. E foi o que fiz.
Muitas mães se perguntam: “Porque comigo?” Mas eu respondo “Porque não com você?” Porque qualquer pessoa pode passar por isso e você não? Estamos vivas, e a vida é assim, ganhamos, perdemos, sofremos, sorrimos. É a vida. Deus é bom. Ele não passou a ser ruim porque levou seu filho, afinal, se você perdeu um filho, é porque este mesmo Deus um dia lhe deu. Então seja grata por tudo que você está aprendendo nestes dias de dor, pois tudo tem um propósito! Não foi fácil chegar a essa conclusão, mas valeu a pena não ter desistido. Hoje eu te encorajo a seguir em frente. Um dia de cada vez, até que um dia você vai procurar essa dor e ela não vai mais estar lá. Acredite, esse dia vai chegar!!!
Janaina
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