“Amiga,me leva nas tuas asas hoje que amanhã te levo nas minhas”

 

Passava do meio-dia quando ela chegou pra me visitar naquela terça-feira  de novembro.Apesar da dor o sorriso de menina e o jeito manso e carinhoso de falar transmitia uma paz enorme.Enquanto eu estava na cozinha preparando algo pra comermos ela sentada no sofá, dizia o quanto me admirava, falava da minha força e desenvoltura pra lidar com a dor da  morte.Ela se sentia tão frágil,tão fraca,como se não houvesse nada na morte que ela pudesse dar vida ou acrescentar na vida de alguém. Observei com atenção enquanto ela falava,era gratificante ver sua admiração e seu recente corte de cabelo inspirado no meu,era muito bom,ver que meu trabalho estava chegando até as pessoas que eu gostaria que chegasse, e mais ainda que eu de alguma forma estava fazendo a diferença na vida de alguém que perdeu um filho.Não me lembro se cheguei naquele momento a verbalizar meu agradecimento aos seus comentários ,mas,me lembro que me aproximei dela e disse que era eu quem a admirava,que estava me inspirando na força dela pra organizar muitas coisas que eu ainda fugia dentro do meu luto.

Aquele era nosso segundo encontro,o primeiro havia acontecido um mês antes.Depois de alguns contatos pela internet e por telefone eu fui até sua casa conhece-la pessoalmente. Naquela tarde levei meu amor,meu suporte,um buque de rosas,um lenço com a a letra de Phillip,seu filho de 1 ano e 4 meses que partiu.

Foi uma tarde agradabilíssima, juntas rimos e chorando e comemos.Apesar da sua perda recente,cerca de 5 meses, eu fiquei admirada com o que eu vir na casa dela.Havia fotos do seu menino por tudo lado,havia objetos dele de estimação emoldurado na parede.Aquela casa era do Phillip …ele não havia morrido,apenas se mudado pra outro lugar.As memorias dele sorria por toda parte,de forma carinhosa,criativa e organizada.A organização,uma virtude que não me  pertence, era deliciosamente perceptível naquele charmoso apartamento.Na sala, na parede atras do sofá,lugar nobre da casa,estava uma parede cheia de fotos emolduradas cuidosamente,na esquerda uma pequena mesa,cheia de porta retratos,e ao lado uma mesinha com o tampo feito com uma colagem especial de fotos.Na frente do sofá a TV de plasma na parede era uma coadjuvante sem importância,diante das molduras feita por amigos e que guardavam objetos preciosos do seu menino.

No seu quarto a vida do Phillip era ainda mais intensamente celebrada,uma pequena estante branca,cheio de brinquedos recordações,fotos, sapatinhos, mimos do ultimo aniversario dele,gritava que o PHILLIP VIVIA. Aquela estante era mais que uma estante,era um memorial,um tributo ao amor verdadeiro e eterno que aquele lindo boyzinho representou e ainda representa na vida daquela familia. O Mickey o personagem favorito do seu menino,estava bem ali em forma de bichinhos de pelúcias,adereços e é claro estampado na mala que ela escolheu para guardar suas roupinhas.

Aquele cantinho era muito,mas,muito especial.Alem de beleza,de todo amor e das peças que pertenceram ao Lip,havia algo ainda mais especial.Assim como o meu Oliver,o Phillip foi cremado,mas,diferente da mãe do Oliver a mãe do Phillip foi forte e cheia de atitude e levou suas cinzas pra casa.

Parada diante do mundo do Lip,eu podia ver de forma palpável um capitulo do meu luto que eu havia pulado e que era preciso voltar pra resolver.Diante da força da mãe do Phillip,eu mulher vista por ela como forte e admirável fui confrontada pela minha covardia,fuga,fragilidade e fraqueza.Havia se passado um ano e meio da minha perda e eu nunca tive força,para voltar no tempo e  organizar suas roupas,fotos,lembranças.O enxoval do meu bebê continuava guardado da mesma forma que minha amiga Moniquinha tinha guardado no dia que ele partiu.Talvez pra mim fosse mais fácil lidar com a morte e a administração dos traumas  e sentimentos,mas,não com as burocracias deixada por ela.Mas,para ela  lidar essas burocracias era um dom especial e  que a ajudava a senti-se melhor .Era como se mesmo inconsciente ela se preparasse pra seguir com sua vida,não deixando seu pequeno Lip pra trás ,mas,levando ele consigo de forma organizada,pois assim haveria espaço,força e coração pra receber bençãos novas.

Já tarde da noite,quando dirigia pra casa, eu senti uma vontade imensa de organizar e fechar essa parte do meu luto,de preparar meu coração para receber nossas bençãos, sabia que nunca conseguiria isso sozinha,mas,agora eu sabia  também que não estava sozinha.

Na segunda-feria logo depois do Thankgiving(Dia da ação de Graça) aquela mulher de sorriso de menina e jeito manso,que se achava frágil veio ser a força de quem agora era fraca.Ela segurou nas minhas mãos e juntas voltamos ao tempo,diante do enxoval nunca usado do meu menino,choramos,contamos historias,tomamos decisões e fizemos planos.Separamos roupas, mimos e recordações.Oramos e organizamos mantas,sapatinhos e emoções.

Alguns horas depois,com a sessação de desafio cumprido,decidimos ir ao shopping,era preciso,saudável e recomendável mudar o foco e aliviar nossas almas cansadas .No final do dia quando finalmente paramos no restaurante pra almoçar,percebemos que apesar de termos visto e cobiçado tantas coisas bonitas nas lojas,nenhuma de nós havia comprado nada…

Não..nas lojas não havia nada que pudesse  ajudar almas feridas…pois já sabíamos que

Só Deus pode nos presentear,

com uma amizade cúmplice e

verdadeira,que nos ajude a caminhar.

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Na próxima pagina,Conheça um pouco da historia do Phillip e veja a galeria das fotos em memória dele.

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Cassia Cohen -Editora Chefe
Em 1º de abril de 2011 Cassia teve gêmeos,Christopher e Oliver.No dia 06 ,Oliver,o caçulinha faleceu devido a complicações de uma infecção intestinal(enterocolite necrosante ).Em 06 de abril de 2012,um ano depois da partida do seu filho,a revista eletrônica foi lançada. Cassia é Piauiense, mora na Flórida-EUA com seu marido,Stuie e seus filhos Vick e Chris.
http://mulheresferidasquevoam.com

Oi Meninas...e então o que vocês acharam?...comentem

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