O fato e os frutos

 

…Então Fabiola colocou o livro contra seu peito,caminhou lentamente pela casa,enquanto pensava em tudo aquilo.A marca de 6 mil exemplares vendidos do seu livro,deixava ela muito orgulhava de si mesma,mas,por um outro lado era estranho o caminho que ela precisou percorrer para que hoje fosse considerada uma mulher, inspiradora, forte, guerreira, valente.Enquanto olhava pela janela pensou:“Meu filho diria que meu livro bombou”. Parada olhando o tudo e o nada ao mesmo tempo, riu quando se viu usando aquela palavra que a garotada da idade do seu filho,costuma usar para dizer que tal coisa…foi um sucesso…Sim ela sabia que era uma mulher de sucesso,uma mulher que apesar de toda a dor não aceitou ser transformada em fracasso.

Ainda segurando aquele livro,com a delicadeza de quem segura um filho no colo,ela se afastou lentamente da janela e se voltou para as fotos espalhadas nos porta retratos pela casa.Ali em forma de fotografia ela podia tocar na decisão que ela tinha feito de não se entregar a morte, de não permiti que a dor e a depressão anulassem todas as possibilidade de fotografar os momentos bons que sua família ainda merecia viver.

E apesar de estranho,era verdadeiro…muitos momentos bons foram vividos por ela e por sua família depois daquele dia,ela sabia que a sua decisão consciente de não se tornar uma mãe-esposa depressiva, feia, descabelada, mal amada, foi vital para reestruturação da sua casa.Restruturação essa que começou dentro dela.Existia um tsunami devastador que fazia estragos incalculáveis dentro do seu coração e da sua mente,ela sabia que precisava encontrar caminhos que a ajudasse  voltar a viver e ainda ser feliz com os pedaços que sobraram…

Enquanto sentava confortavelmente em sua  poltrona predileta ela agasalhou o livro no seu colo e de olhos fechados contemplava com as mãos e o espirito, a materialização do legado de uma vida,expressada através do papel e da tinta. Aquele não tinha sido seu plano inicial, quando começou a escrever,era somente um diário,sugestão da sua terapeuta, onde relatava sua dor,seus medos e seus desejos mais profundo.Mas,com o passar dos dias,seus relatos e confidencias ficavam mais intensos e frequentes,fazendo com que ela tivesse cada vez mais vontade escrever.E foi escrevendo que ela teve uma experiência  determinante para a escolha do próximos caminhos que ela deveria seguir.

Em um certo momento,bem no auge da sua dor e desespero,ela que sempre foi católica,deixou suas crenças e passou a procurar outras formas de consolo e respostas. Com o coração sofrido e inquieto,desejando desesperadamente noticias do seu menino,escreveu uma carta para uma médium sensitiva, em que relatava o ocorrido e pedia ajuda para ter noticias do seu menino.Quando já acreditava que não teria sua carta respondida,ela teve uma grata surpresa….Era véspera de natal quando as  noticias que ela tanto esperava,chegou pelo correio…Sim..seu filho mandou noticias pelo correio.E lendo aquela carta, seus olhos ficaram cheios de lágrimas,mas,seu coração finalmente começou a se acalmar ao saber que ele estava bem.Naquela carta ele também pediu para que ela seguisse com a sua vida e finalizou fazendo um pedido,ou melhor dando uma “ordem”,uma daquelas ordens que uma mãe nunca resisti….

“Escreva o livro”

Naquele momento ela percebeu que seu diário,não pertencia só a ela,era preciso dividi,compartilhar…E assim o fez.Agora alguns anos depois,sentada ali na sala,seu olhar começou a ficar distante… Fabiola tentava organizar na sua mente como tudo aquilo havia começado…e si permitindo voltar a aqueles dias, caminhou mentalmente entre o fato e os frutos.

O Fato era imutável e ela sabia que não havia poder sobre ele –Seu filho de 15 anos, um menino lindo de olhos verdes,inteligente e determinado,se preparava para ser um engenheiro de telecomunicações. Estudava na Fundação Nokia de Ensino,onde havia ingressado com honras de primeiro colocado.Mas,naquela segunda-feira, 1º de setembro de 2003, seus 15 anos de vida, seus olhos verdes, sua inteligência e determinação herdada da sua mãe,sua paixão pela engenharia herdado do pai,os planos feito com seu irmão…seus desejos, sonhos e projetos –  caiu de um principicio de mais de 50 metros de altura.Aquela tragédia com o ônibus da escola do seu filho,interrompeu prematuramente a vida de  quatro adolescentes,deixando nos 26 feridos sequelas que alguns carregaram para sempre no corpo e outros na alma.

Bruno Galvão

Quanto- Aos Frutos,esses possíveis de mutação, ela conseguia ver que mesmo com algumas limitações tinha poder sobre a colheita.Claro que a primeira,feita imediatamente apos o fato foi devastadora… a dor  parecia consumir seus dias e seu corpo…uma culpa que mesmo não tendo razão de ser,si instalou gritando dentro do seu peito.Tudo se tornou escuridão e todos os sentimentos insuportáveis. as lembranças daqueles dias mais latente de dor,trouxeram  lágrimas aos seus olhos  que caiam lentamente sobre o  livro que estava no seu colo.

Com cuidado para não derrubar o livro,ela levantou da poltrona e decidiu caminhar no meio de outras frutos colhidos no decorrer dos últimos anos.O  primeiro deles,estava bem ali, entre sua mãos-o livro AS BAQUETAO segundo acrescentava a Fabíola a sensação impagável de viver aqui na terra a missão designada por Deus. Há mais ou menos cinco anos ela e  mais duas mães, fundaram o GAPS – GRUPO DE APOIO AOS PAIS NA SAUDADE e desde de então elas vem ajudando muitas familias a encontrarem nas suas vidas uma forma de voltar a viver e sorrir depois de perder um filho…alias depois de devolver um filho…Fabíola acredita que não se perde um filho,mas, devolve…então era gratificante ver em muitos pais que devolveram seus filhos…sorrisos e esperança no rosto, onde outrora havia somente lagrimas e desespero. Sim…muitos entenderam e começaram a pautar a nova fase das suas vidas,na frase que o GAPS,escolheu como lema:

“A dor é inevitável, sofrer é opcional”!

E sendo a dor uma opção, Fabíola ao olhar  rapidamente para o relógio na parede, viu que especialmente naquele dia não havia tempo para  sofrer. Decidida e quase pronta, si dirigiu rapidamente para o quatro onde retocou a maquiagem, realçando seus  olhos azuis,dando uma ultima conferida na sua roupa disse:Perfeito!!! Então imediatamente  depois do  espelho confirmar que ela continuava linda aos 52 anos de idade, agradeceu e saiu apresadamente…Ela tinha sede de vida….

De volta a sala foi recebida com um caloroso beijo do seu marido amado, José Neto,e quando si dirigia em direção a porta,seu menino, o caçula, Lucas, de 19 anos, apareceu com um sorriso largo e a beijou carinhosamente.

Trinta minutos depois, lá estava a Brava Fabíola Galvão.Depois do sucesso do primeiro livro As Baquetas, agora era tempo de divulgar o segundo, Pétalas de luz .Ela não podia parar,pois a queda daquele ônibus levou muitas coisas-exceto a honra, a  memoria e a missão que Bruno Galvão deixou de legado para sua mãe.

Próxima pagina: informações sobre os livros e o GAPS

Cassia Cohen -Editora Chefe
Em 1º de abril de 2011 Cassia teve gêmeos,Christopher e Oliver.No dia 06 ,Oliver,o caçulinha faleceu devido a complicações de uma infecção intestinal(enterocolite necrosante ).Em 06 de abril de 2012,um ano depois da partida do seu filho,a revista eletrônica foi lançada. Cassia é Piauiense, mora na Flórida-EUA com seu marido,Stuie e seus filhos Vick e Chris.
http://mulheresferidasquevoam.com

Oi Meninas...e então o que vocês acharam?...comentem

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